Derrotado nas urnas no último domingo (30), o presidente da República, Jair Bolsonaro (PL), levou exatos dois minutos e três segundos para quebrar o silêncio de 45 horas que manteve após resultado oficial das eleições que deram o terceiro mandato a Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Em poucas palavras e sem admitir a vitória, parabenizar ou sequer citar o adversário, o atual mandatário iniciou pronunciamento agradecendo aos 58 milhões de votos que obteve e em seguida criticou a forma como os protestos que começaram na noite de domingo vem sendo conduzidos. "As manifestações pacíficas sempre serão bem-vindas, mas os nossos métodos não podem ser os da esquerda, que sempre prejudicaram a população, como invasão de propriedades, destruição de patrimônio e cerceamento do direito de ir e vir”. Sem detalhar números ou aprofundar informações citou que conseguiu superar as consequências da pandemia e da guerra da Ucrânia e ressaltou que, embora seja rotulado antidemocrático, nunca falou em controlar ou censurar a mídia e as redes sociais. Sem ser literal, admitiu que respeitará o resultado das eleições, já que não pretende contrariar o que é constitucional. “Sempre continuarei cumprindo todos os mandamentos na nossa Constituição”. Finalizou dizendo que segue, como cidadão, honrando as cores da bandeira e o lema “Deus, Pátria e Família”. Porta voz – Também de forma muito sucinta e sem responder perguntas da imprensa presente, Ciro Nogueira, chefe da Casa Civil, assumiu o púlpito e falou sobre o processo de transição dos governos. "O presidente Jair Bolsonaro autorizou, quando for provocado, com base na lei, a iniciarmos o processo de transição", disse. "A presidente do PT (senadora Gleisi Hoffmann), segundo ela em nome do presidente Lula, disse que na quinta-feira será formalizado o nome do vice-presidente Geraldo Alckmin. Aguardaremos que isso seja formalizado para cumprir a lei do nosso país", finalizou. Protesto – Enquanto o presidente se manteve em silêncio, sendo também o primeiro da história a não admitir derrota logo após a finalização do pleito, manifestantes bolsonaristas iniciaram protestos com fechamento de rodovias em todo o Brasil. O movimento começou poucas horas depois da confirmação da eleição de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para o próximo mandato. No ápice do protesto, 421 pontos chegaram a ser bloqueados em todo o País, mas decisão do ministro do STF (Superior Tribunal Federal), posteriormente confirmada por maioria na Corte, determinou o desbloqueio das vias. O pedido foi feito pela CNT (Confederação Nacional de Transporte) utilizando ação protocolada em maio de 2018 quando houve paralisação dos caminhoneiros. De acordo com último boletim da PRF (Polícia Rodoviária Federal) até agora 339 pontos de bloqueio foram desfeitos. Em Mato Grosso do Sul a Justiça Federal concedeu liminar determinando a liberação das rodovias, com multa diária de R$ 10 mil por pessoa física e de R$ 100 mil por pessoa jurídica que apoie os movimentos. No despacho o juiz federal Daniel Chiaretti determina que a PRF, Polícia Federal e “demais órgãos competentes” adotem “medidas necessárias e suficientes ao resguardo da ordem”, “inclusive mediante o emprego da força”. Dos 28 pontos de bloqueio no Estado, apenas seis permanecem. Leia o pronunciamento de Bolsonaro na íntegra: “Quero começar agradecendo os 58 milhões de brasileiros que votaram em mim no último dia 30 de outubro. Os atuais movimentos populares são fruto de indignação e sentimento de injustiça de como se deu o processo eleitoral. As manifestações pacíficas sempre serão bem-vindas. Mas os nossos métodos não podem ser os da esquerda que sempre prejudicaram a população, como invasão de propriedades, destruição de patrimônio e cerceamento do direito de ir e vir. A direita surgiu de verdade em nosso país. Nossa robusta representação no Congresso mostra a força dos nossos valores: Deus, pátria, família e liberdade. Formamos diversas lideranças pelo Brasil. Nossos sonhos seguem mais vivos do que nunca. Somos pela ordem e pelo progresso. Mesmo enfrentando todo o sistema, superamos uma pandemia e as consequências de uma guerra. Sempre fui rotulado como antidemocrático e, ao contrário dos meus acusadores, sempre joguei dentro das quatro linhas da Constituição. Nunca falei em controlar ou censurar a mídia ou as redes sociais. Enquanto presidente da República e cidadão, continuarei cumprindo todos os mandamentos da nossa Constituição. É uma honra ser o líder de milhões de brasileiros que, como eu, defendem a liberdade econômica, a liberdade religiosa, a liberdade de opinião, a honestidade e as cores verde e amarela da nossa bandeira”.