Dia desses estava pensando no quanto o uso do filtro se normalizou. A nossa necessidade de estar bem (?!), pelo menos da tela para fora, se tornou quase permanente. Estamos nos descaracterizando em nome de algo que nunca alcançaremos: a perfeição – baseada no padrão de beleza que impera hoje. Pode parecer algo inocente, mas grande parte dos filtros mexem com o rosto, deixam bochechas rosadas, narizes afinados, bocas aumentadas, peles lisas e aveludadas feito pêssego. É surreal. O conforto é tamanho que conseguimos ludibriar até a vida real tomando caminhos abreviados para filtrar a realidade. Eu sei, tem dias que acionar o 'modo filtro' é preciso. Vestir a capa da mãe dedicada, esconder os fantasmas da madrugada, brincar com as crianças como se não houvesse mais nada. Tem dia que precisamos acionar o filtro que esconde as olheiras, os grisalhos, a coluna prostrada. Tem dia que precisamos acionar o filtro para conseguir sobreviver pelas próximas 24 horas sem querer sumir, sem se arrepender, sem não se reconhecer. Dias estes que ocupam mais espaço no calendário do que gostaríamos, pois diante da densidade dos tempos em que vivemos fica difícil encarar a realidade sem ter subterfúgios para amenizar o impacto. Mas, por mais incômodo que seja, o que sobra se nos despirmos? O que vem se o piloto automático for desligado? Ora, olhe para si! Cada traço, cada marca, cada detalhe conta a sua história e, levando em consideração tudo que se passou nos últimos anos, estar vivo é loteria. Todo dia é sorte pura chegar até o fim, ouvir todas as badaladas do relógio. Viver é raridade, respirar é alívio. Então não deixe de habitar na sua pele. Somos quem somos e a beleza tá exatamente aí. Jéssica Benitez é jornalista, mãe do Caetano e da Maria Cecília e aspirante a escritora no @eeunemqueriasermae Acompanhe o Lado B no Instagram @ladobcgoficial , Facebook e Twitter . Tem pauta para sugerir? Mande nas redes sociais ou no Direto das Ruas através do WhatsApp (67) 99669-9563 (chame aqui) .