Quase sem visão, mãe ainda costura em Singer que lembra a filha

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“Me desculpa pela pobreza”, reforça José Maria Santos ao lado da esposa Sebastiana da Silva Santos. De cara, dá para ver que a vida nunca foi fácil ali. Na luta e superando tragédias, os dois conseguiram levantar as paredes da casa hoje azuis, bem desbotadas, mas com carinho da filha nas flores pintadas em amarelo que emolduram as janelas e portas. Ali, na pequena varanda, quase sem visão, Sebastiana continua usando a máquina Singer que ganhou para fazer as roupas da filha que morreu há 14 anos. Apesar da catarata que continua se intensificando, da saudade ou da falta de peças para arrumar adequadamente a máquina de costura, que já fez aniversário de 24 anos, Sebastiana explica que segue com as linhas rodando. “Agora estou costurando um pano para o José levar quando vende algodão doce”. Quando a filha, Norma, tinha cerca de dez anos, a máquina chegou como presente de uma amiga. “Ela não se desenvolveu bem, então eu precisava fazer as roupas especiais para ela. Aí uma amiga me deu essa máquina, que já era antiga na época, para me ajudar”, diz a mãe. Oito anos depois, a filha faleceu em consequência da meningite, e a máquina continuou como parte de Norma em casa. Devido à visão perdida, ela comenta que não consegue costurar para outras pessoas, então a máquina ganhou espaço na varandinha só para pequenos reparos de casa mesmo, como do pano que José leva para vender algodão doce pelas ruas. Ex-trabalhador de usina de álcool, ele diz que perdeu as contas de quantos acidentes sofreu. Para provar os efeitos da labuta, traz uma sacola e uma caixa cheia de remédios. "E olha que esses são os meus, os dela são muito mais", garante. No mesmo lugar em que as memórias de uma filha parecem dolorosas, casa ganhou cor pelas mãos de outra filha, Lilian. Orgulhoso, José entra agitado na casa e volta com um quadro pintado por ela, “no quarto dela tem mais coisa ainda. Ela que pinta tudo”. Tímida, quase no fim da conversa com os pais, Lilian chega do trabalho. Sem brilho no olhar, ela diz que não pinta mais, que fez “pouca coisa”, com restos de tinta. Antes dos filhos, Sebastiana explica que os dois se mudaram para o bairro Tiradentes há mais de 30 anos. “A gente ganhou o terreno inteiro, mas aí meu marido resolveu dividir com os outros vizinhos. Aí ficou só um terreno para a gente”. Na época, enquanto José trabalhava na usina de álcool, Sebastiana se mantinha em casa para cuidar de Norma e dos outros dois filhos. “Minha vida nunca foi fácil, nem quando era criança. Sempre foi com muita dificuldade, tinha de trabalhar na roça”, lembra a mãe. Mesmo assim, com toda uma vida de dificuldades variadas, Sebastiana e José ficam a maior parte do tempo rindo, guardam as dores e preferem oferecer o carinho da conversa e do algodão doce. Acompanhe o Lado B no Instagram @ladobcgoficial , Facebook e Twitter . Tem pauta para sugerir? Mande nas redes sociais ou no Direto das Ruas através do WhatsApp (67) 99669-9563 (chame aqui) .

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