A quadrilha do falso consórcio, que age desde 2019 em Mato Grosso do Sul, já teria obtido R$ 4 milhões com os golpes, somente em 2022. Nesta segunda-feira (21), o Campo Grande News divulgou que pelo menos 50 pessoas, em Campo Grande, foram lesadas pela empresa de consórcio, que vendia cartas de crédito contempladas, mas nunca entregou os bens. O delegado da Decon (Delegacia Especializada do Consumidor), Reginaldo Salomão, explicou que o valor obtido com o golpe ainda é apurado, mas os R$ 4 milhões teriam sido revelados por um dos golpistas. "Uma das pessoas que trabalhou lá printou uma conversa, na qual a pessoa falava que bateram a meta de R$ 4 milhões e que para o próximo ano seriam R$ 5 milhões". Nesta segunda-feira, houve confusão na Solucred pelas vítimas, que formaram um grupo em aplicativo de mensagens e resolveram comparecer na sede da empresa para defender os seus direitos. Todos os clientes estavam bloqueados e com acesso negado à empresa. "Uma das vítimas afirmou ter reunião com um dos golpistas e ao entrar liberou a entrada para outras vítimas, gerando um confronto e agressões mútuas", disse a Decon. A Polícia Militar foi acionada pelas vítimas e, por sua vez, acionou a Decon. "Oito pessoas, sendo quatro mulheres e quatro homens foram conduzidos e apenas a recepcionista da empresa não foi indiciada. A maioria dos conduzidos já foram indiciados, mas como ontem, na ausência de estado flagrancial foram ouvidos e liberados". O Procon usando o poder de polícia administrativa fechou pela segunda vez a empresa. "Os líderes da Solucred, Ideal, Agilibank não foram localizados, uns estariam em horário de almoço e outro estaria em viagem para São Paulo", informou a Decon. Como agem – Segundo o delegado, os estelionatários agem da seguinte forma: alugam salas por hora, captam vítimas pelo Facebook e market place. Eles divulgam financiamento de veículos e imóveis. A pessoa se interessa nesses produtos e entram em contato. O cliente, então, acaba sendo ludibriado, levam documentos, fecham negócio e dão tudo o que tem de entrada, pois acreditam que vão adquirir carta de crédito já contemplada. Os estelionatários dão sete dias para o cliente sacar o dinheiro. Como o valor prometido não sai, a pessoa acaba voltando na empresa, mas é enganada novamente até os criminosos conseguirem mudar de região e nunca mais serem vistos. Segundo o delegado, a polícia investiga quatro pessoas da quadrilha, que aprenderam o golpe com outros dois estelionatários, moradores de outro Estado. Cada um desses golpistas, então, se separou e formou o seu grupo, recrutando trabalhadores para vender os falsos consórcios. Alguns funcionários quando descobrem que se trata de crime procuram a polícia. É o caso de Elorrayne Maidana da Silva, 18 anos, que trabalhou na Roma por sete dias e descobriu os golpes. Foi ela que conseguiu juntar o grupo de 50 clientes lesados e fez a denúncia. “A vítima vinha até nós com interesse de comprar uma moto ou veículo pelo anúncio que a gente fazia no market place no Facebook. Se ele queria um carro de R$ 50 mil e queria comprar parcelado, aí a gente dava uma carta de crédito pra ele como se fosse um consórcio”, conta. Depois disso, “o cliente nunca mais via o dinheiro”. Mas, há outros funcionários que descobrem o golpe e continuam. O delegado explica que a quadrilha tem uma rede muito grande de informantes. “Quando fomos cumprir buscas e apreensão em uma das salas que eles haviam alugado, alguém travou o elevador que nós estávamos. Os golpistas foram informados e acabaram fugindo por outro elevador”, contou. Pessoas humildes – Conforme o delegado, não há um número exato de vítimas, mas são centenas e os valores podem chegar a um número extraordinário. “É um golpe que vem sendo aplicado desde 2019. Mas a maioria não procura a polícia, porque acredita que não terá o dinheiro de volta”. A quadrilha fez vítimas em Três Lagoas, Dourados e Naviraí. Segundo o delegado, as vítimas são pessoas humildes que acabaram perdendo o dinheiro que haviam juntado para realizar o sonho de comprar veículo ou imóvel. Elas acabam sendo atraídas, porque a quadrilha oferece dinheiro sem consulta no SPC e Serasa. A Polícia alerta que antes de fechar qualquer negócio a pessoa deve pesquisar sobre a empresa na página do Banco Central. “Não há financiamento que exige pagamento para receber. Carta de crédito contemplada não existe”.