É comum associarmos a Educação a uma jornada, um trajeto ou – como o Novo Ensino Médio apresenta – uma trilha. A vivência escolar acompanha dia a dia o desenvolvimento de um ser humano. Na Educação Infantil, a criança começa a dar seus primeiros passos na aprendizagem, nas bases do brincar, do conviver, do participar, do explorar, do expressar e do conhecer a si mesmo. É recebida, então, nas Séries Iniciais, onde são dados seus primeiros passos no mundo da leitura e da escrita por meio do processo de alfabetização. Nas Séries Finais, o estudante precisa lidar com múltiplos campos do conhecimento, com professores específicos para cada área. Inaugura, então, uma nova rotina escolar que exige mais organização e disciplina. Já no Ensino Médio, o estudante é introduzido no fazer científico e passa a construir o sonho do ingresso no Ensino Superior. Na Universidade, o indivíduo entra em contato com a ciência em sua forma mais complexa, podendo tanto desenvolver quanto difundir o conhecimento. No entanto, sob uma ótica trivial, cria-se uma falsa percepção de que a trajetória vivida no Ensino Básico é apenas uma ponte para o momento pontual da conquista de uma vaga na universidade e que, a partir desse momento, o estudante desenvolverá aprendizagens reais e significativas. Hoje quero propor um novo olhar sobre esse suposto fim do percurso. Em duas décadas de experiências no chão da escola, aprendi com a sabedoria de Riobaldo que “o real não está na saída nem na chegada: ele se dispõe para a gente é no meio da travessia”. Aprendi, também, que o real da escola é tão universal quanto o da universidade. O caminho da Educação Infantil até o Ensino Médio é por si só uma travessia que compreende sucessivas aprendizagens que se constroem, se renovam e se solidificam durante o caminho. Aprendi também que essa travessia é muito mais bonita e prazerosa quando escola e universidade trabalham juntas em todas as etapas desse processo. Infelizmente, nem sempre é assim. Há momentos em que Ensino Básico e Ensino Superior parecem dois polos extremos do ato educacional: o início e o fim de um percurso. A universidade, por um lado, está coberta pela atmosfera de rigor e complexidade que o conhecimento acadêmico exige e, portanto, traz inovação, desenvolve pesquisas e contribui para o progresso da ciência de maneira sólida e eficaz. Por outro lado, a Educação Básica traz em sua rotina demandas tão complexas que pouco sobra espaço, tempo e disposição para a participação dos gestores, coordenadores e professores nas atividades desenvolvidas pela universidade, cuja produção, por toda a complexidade que lhe é peculiar, torna-se de difícil absorção e aplicação na sala de aula, distanciando-se cada vez mais da realidade escolar. Assim, em vez de universidade e escola serem ‘gente de casa’, sentindo-se à vontade para conversar, como em um almoço de família, parecem ‘visitas ilustres de um chá da tarde’, com todas as formalidades sobre a mesa. Não se esbaldam, não dialogam, saem da mesa com fome, apenas por apreço às regras de etiqueta. Despedem-se e prometem voltar um dia. E sabe-se lá se voltam. Para que isso não aconteça, em vez de um caminho com um fim, é preciso considerar o processo educativo como um ciclo: a universidade precisa da escola e a escola precisa da universidade, em uma relação retroalimentada. A universidade tem na escola um grande e maravilhoso laboratório e a escola tem na universidade a possibilidade de repensar e reconstruir suas práticas pedagógicas. É preciso, portanto, fortalecer esses laços. É preciso que a universidade respire o ar da escola e a escola inspire os alunos com a vivência prévia na universidade. Iniciativas realizadas por meio de projetos de extensão, programas como a Residência Pedagógica e o Pibid (Programa de Iniciação à Docência) têm sido exemplos de como essa parceria pode ser produtiva. Por um lado, a universidade capacita futuros professores, proporcionando-lhes os primeiros passos na docência sob a orientação de um professor mais experiente. Por outro lado, a escola recebe, no convívio com a universidade, conhecimentos de novas tecnologias e metodologias desenvolvidas para a aprendizagem, reforçando o caráter da formação continuada dos professores da própria escola. Nessa parceria, todos saem ganhando. (*) Moacir Natércio Ferreira Júnior é professor de português e literatura no Ensino Médio do CED 104, no Recantos das Emas, e membro do Conselho Editorial da revista Darcy.