Quase dois anos da morte de Lucas de Moraes Charão, os pais do jovem conhecido como "Bocão", assassinado no dia 26 de novembro de 2020, relevam a dor que é conviver com a ausência do filho e o sentimento de impunidade de cruzar vez ou outra com o suspeito do crime, pelas ruas do Bairro Moreninha. “Ele não atirou só no Lucas, aqueles tiros mataram todo mundo. Nós não temos mais alegria de nada, perspectiva em nada. Direto nós damos de cara com o menino que matou ele andando na rua. Não sei te explicar o que eu sinto quando vejo ele. É uma mistura de raiva com tristeza. Ele anda na rua como se não tivesse feito nada”, conta o serigrafista, Edilson Dourado Charão, 51 anos, pai do Lucas. Edilson relata que desde a partida do filho, a vida da família mudou. Remédios antidepressivos e que auxiliam no sono fazem parte da rotina do casal que não consegue esquecer a imagem do filho morrendo, sem que eles pudessem ajudar. “Nunca precisei tomar um dipirona na minha vida e agora eu tomo antidepressivo, remédio para dormir, porque eu deito na cama vem a imagem do meu filho morrendo no meu braço. Tudo mudou na nossa vida depois que ele morreu”, afirma. Sem conseguir se desfazer dos pertences do filho, as lembranças se materializam com as roupas e calçados que ele usava e que agora ficam guardados em uma mala. Além dos objetos, fotografias do Lucas estão expostas em porta-retratos na casa da família. Sentimento de impunidade – Lucas foi executado em uma residência da Rua Araticun, no Bairro Moreninha III. Ele estava na varanda, conversando e tomando cerveja com uma amiga, quando o assassino invadiu a casa e atirou no rapaz. Dois tiros não foram o suficiente e o autor, que já estava indo embora, voltou para disparar mais uma vez. A arma, no entanto, falhou e ele fugiu em seguida. Foram os pais de Lucas que o socorreram até a UPA (Unidade de Pronto Atendimento) Moreninha, localizada a poucos metros do local em que o crime aconteceu. Mas a pouca distância da unidade não foi possível salvar a vida do filho. “Antes dele ser morto ele estava aqui em casa, era de madrugada, ele já estava com short de dormir e falou que não ia mais sair. Passou 40 minutos recebemos uma ligação falando para irmos lá porque tinham atirado nele. Chegamos antes do SAMU, antes da polícia e ele estava agonizando na cadeira, relembra Edilson. O serigrafista acredita que as investigações não prosseguem pelo fato de o filho ter várias passagens criminais. “Eu acho que o caso dele é tratado com descaso por causa da ficha dele, Lucas deu trabalho para a polícia. Não estou aqui passando a mão na cabeça do meu filho, ele errou muito, mas quando meu filho errou, ele ficou preso e pagou pelo o que ele fez e eu quero que quem fez isso com ele pague. A lei foi aplicada justamente nele, que seja agora aplicada em quem fez isso”. Edilson conta que Lucas começou a usar droga aos 12 anos e a luta para tirar o filho do vício era constante. “O Lucas iniciou muito cedo com a dependência química, sempre lutamos muito para tirar ele. Eu nunca desisti dele, todo dia eu lutava para ele sair dessa vida. Ele era tratado com amor e carinho. Meu filho tinha chance de mudar de vida, mas agora ele está morto e não vai mais ter essa oportunidade”. Edilson sabe que nada vai trazer o filho de volta, mas ver o suspeito preso, será acalento para o coração dele e da esposa, que não consegue conviver com a dor da impunidade. “A prisão dele vai amenizar nossa dor, porque eu não vou mais ver ele andando na rua, como se nada tivesse acontecido”, conclui. Investigações – De acordo com a delegada titular da 4ªDP Sueili Araújo Lima Rocha, responsável pelo caso, as investigações ainda estão em andamento. “Nós ouvimos novamente o pai da vítima e vamos ouvir mais uma vez a mãe de um dos suspeitos”. O inquérito policial está sem autoria, e segundo a delegada, em breve será relatado e encaminhado ao poder judiciário. “Vamos sugerir que esses casos mais antigos e sem autoria sejam encaminhados para a DEH (Delegacia Especializada em Repressão aos Crimes de Homicídios”, explicou a delegada.