Os historiadores atuais se debruçam sobre dois fatos que mudaram os rumos de Campo Grande: a chegada dos trilhos e a divisão do Estado. E estão certos. Transformaram a cidade, promoveram seu crescimento e apogeu. Mas há alguns homens, quase esquecidos, que também revolucionaram o perfil deste que era um imenso município em área e diminuto em população e riqueza. Um deles foi, sem duvida, Arlindo de Andrade Gomes. O primeiro marqueteiro da cidade. Arlindo de Andrade, quando prefeito, escreveu um livro denominado "O município de Campo Grande em 1.922", portanto há um século. A ideia era "vender" a cidade para os gringos. Explícita que o ex-Secretário do Tesouro dos Estados Unidos estava enaltecendo as virtudes de nosso Estado. Era hora de conseguir recursos para o desenvolvimento do "povoado" que era C.Grande. Essa ideia, pioneira, está no cerne, na alma de C.Grande. Gestão após gestão, a maioria dos administradores tentou conseguir recursos em outras regiões do mundo. A cidade é bela devido a Arlindo. Arlindo viveu intensamente a vida de C.Grande, desde maio de 1.911, quando aqui chegou para ser o primeiro juiz. Pernambucano, alto, magro, fisicamente semelhante a Gandhi, seus amigos o chamavam pelo apelido do grande líder hindu, amava mais a botânica que os conhecimentos de direito, sua profissão. No 7 de setembro de 1.922, primeiro século da independência, plantou dois jequitibás na praça que hoje é denominada Ari Coelho. Seu encantamento pelas árvores era constante. Foi ele, como prefeito, quem plantou os primeiros fícus e ingazeiros que ainda embelezam a Avenida Afonso Pena. Um ecologista antes do tempo, Arlindo determinou a beleza da futura capital. Nenhuma cidade brasileira, até então, se preocupava com suas árvores, pelo contrário, as abatia como formigas. O prefeito que lutava contra os impostos. Quem já leu ou ouviu falar de um prefeito, governador ou presidente que cortasse impostos e lutasse contra a elevação deles? Estudo história há meio século e minha memória diz: não existem. Os melhores são aqueles que não aumentam impostos. Arlindo foi uma raríssima exceção. Dizia que os prefeitos do Mato Grosso do Sul se preocupavam em "criar impostos e dissipá-los". Também era um republicano radical, pensava na boa administração e excomungava os prefeitos que não passavam de pessoas "ligadas a um partido, acabando o município em benefício desse partido". Político corajoso, sem medo de perder votos, dizia que Ponta Porã e Nioaque eram exemplos dessa prática de cobrar elevados impostos e dissipá-los.