Para se ter filhos é necessário que as partes estejam de comum acordo, isso é fato. Mas, por mais que algumas verdades doam, há de se admitir que a mulher precisa estar 200% certa de que é isso que ela quer porque é na vida dela que passará um furacão que tirará absolutamente tudo do lugar, enquanto somente algumas partes da vida do pai (quiçá nenhuma, aos ausentes) mudará de rota. Para começar o corpo doado será o dela tanto no gestar quanto no amamentar. É ela quem vai parir, enfrentar as rachaduras no peito, sangrar por dias a fio, ter queda brusca de cabelos, mudar de silhueta. É ela quem vai ter que voltar a trabalhar com o coração partido após a licença-maternidade ou ficar em casa e lançar mão de seu emprego. É ela quem vai – na maioria esmagadora das vezes – perder noites de sono, hora das refeições e se banhar em minutos – muitas vezes abraçada pela solidão e com o bebê nos braços. É ela quem vai estudar sobre introdução alimentar, desfralde, desmame e quem vai lidar com a culpa assombrosa quando optar por colocar o trabalho/estudo/carreira como prioridade naquele momento. É ela que vai segurar a barra quando o companheiro precisar viajar ou fazer hora extra no trabalho, quem vai renunciar a muita coisa, coisas essas que não fazia ideia de que perderia quando se tornasse mãe. É ela quem vai carregar a dor de às vezes se ver arrependida de ter escolhido esse caminho, além de ser silenciada sobre as dores do maternar. Também é ela (em grandíssima parte dos casos) quem vai ficar com a criança na hipótese de separação, sendo não raro ter que se desdobrar para consolar o filho quando o pai for se afastando até se ausentar por inteiro. Então, embora saibamos que os papais de agora se debruçam mais para cumprir seu papel, a mãe é sim infinitamente mais atingida pela chegada de uma criança. Costumo dizer que a criação de filhos é uma extensão dos cuidados com a casa. A mulher luta, porém a cultura enraizada empurra quase tudo para ela. Portanto, se pretende ser mãe ou aumentar a prole, tire a venda do romantismo e pese tudo, pois ter um filho é a missão mais sublime, mas também a mais árdua desta vida. Jéssica Benitez é jornalista, mãe do Caetano e da Maria Cecília e aspirante a escritora no @eeunemqueriasermae Acompanhe o Lado B no Instagram @ladobcgoficial , Facebook e Twitter . Tem pauta para sugerir? Mande nas redes sociais ou no Direto das Ruas através do WhatsApp (67) 99669-9563 (chame aqui) .