Desde fevereiro de 2007 quem visitava a livraria Maciel no Centro de Campo Grande encontrava uma das funcionárias mais queridas. Helena Souza Duarte trabalhava no negócio da família e não só fazia o trabalho de atender as pessoas, como também adorava ler para elas. A mulher, que sonhava ser professora, encontrou outra forma de ensinar e apresentar de um jeito único as histórias contidas nos livros. Em abril deste ano, Helena partiu aos 70 anos em decorrência de uma cirurgia cardíaca. Ela deixou seis filhos, netos e incontáveis clientes sentindo sua falta. Casada por 55 anos com Ansures, Helena faleceu dois meses após o marido. Cleide Maria Souza Duarte Rezende, de 51 anos, é uma das filhas. Ela conta que a mãe tinha o dom de despertar o melhor nas pessoas e que através da leitura conseguia encantar a todos. “Dona Helena era uma pessoa muito especial porque trazia a criança dentro de você”, diz. Não importava a idade do cliente ou se ele já sabia ler, Helena pegava o livro e narrava de maneira lúdica o universo criado pelo autor. "Ela interpretava, ela tinha a docilidade e conseguia chegar até o coração. Existem pessoas que nascem com esse dom, ela era assim", explica Cleide. A sensibilidade e paciência são duas características de quem sonhava em ser professora. Contudo, o desejo profissional, segundo Cleide, não foi concretizado. “Quando ela era nova tinha o sonho de ser professora. Aconteceram várias coisinhas e não deu para ela ser. Ela casou nova, tinha 14 anos e não pode ser a professora, mas a professora estava dentro dela”, afirma. Quando Helena faleceu, Cleide relata que a família entrou novamente no processo de luto vivenciado meses antes. “O chão nosso caiu, é muito difícil, tivemos duas perdas com dois meses de diferença. Eles (Helena e Ansures) viveram 55 anos juntos e não ficaram muito tempo separados. Foi difícil, o pessoal falava assim: ‘Eu queria ter uma mãe assim’. Nós tínhamos o prazer de ter ela”, desabafa. Veja o vídeo: Para quem frequentava diariamente a livraria, Helena não era vista simplesmente como funcionária e sim alguém da família. A educadora Joyce Kellen Rodrigues Conceição comenta que Helena tinha uma relação bastante especial com sua filha, a Sofia. “Eu gostava muito dela e fiquei abalada quando ela se foi. Minha filha sempre foi apaixonada por ela, conhece desde os 6 aninhos e Sofia tem 13”, fala. O vídeo da mulher lendo no corredor da livraria para a filha é só mais uma das diversas lembranças guardadas da pessoa que via como avó. “Elas passavam muito tempo nos livros escolhendo, lendo e rindo deles. Às vezes, a avó sentava nas cadeiras para fazer um momento de leitura com a Sosso, que era como ela chamava a Sofia. […] Sou mãe solo e amava a dona Helena e o modo dela tratar a gente sempre com muito carinho”, destaca. Segundo Joyce, o exemplo e as lições ensinadas por ela ficaram marcadas na vida de ambas. “Pra mim e para minha filha ela vive sabe, nas memórias, nos afetos, nos acolhimentos na livraria e nas histórias que sei que minha filha vai levar para o resto da vida”, afirma. Outra pessoa que aprendeu muito com ela foi o neto Samuel Duarte, de 26 anos. Ele descreve algumas das virtudes que sempre admirou. “O amor, a bondade, de fazer o bem. Ela era um anjo na terra, não ligava para ela, ligava para os outros. O que podia fazer por você ela fazia e te ensinava a se doar para o outro. O sonho dela era fazer o bem e graças a Deus toda a família puxou ela”, frisa. Por isso e outros motivos, Cleide garante que a história da Dona Helena e quem ela foi irão se perpetuar. "Todos que conheciam ela viam essa luz que jamais vai se apagar", finaliza. Acompanhe o Lado B no Instagram @ladobcgoficial , Facebook e Twitter. Tem pauta para sugerir? Mande nas redes sociais ou no Direto das Ruas através do WhatsApp (67) 99669-9563 (chame aqui).