Na Rua 14 de Julho, o Casarão São Thomé é parte permanente do cenário da região desde 1945. Inspirada no movimento da ‘Art déco’, a arquitetura da residência prestigia formas geométricas que na época transmitiam aspecto de modernidade. O imóvel construído por Manuel Secco Thomé está sob os cuidados da neta, a artista plástica Miska Thomé. Acompanhada pela guardiã da casa, o Lado B fez uma tour pelo espaço que já serviu de delegacia da Polícia Federal, mas desde 1996 é sede da Ecoa, que é uma organização não governamental que promove ações para preservar o meio-ambiente. A fachada continua com o muro baixo original que ganhou a companhia de uma grade que protege o espaço. Apesar de antiga, a casa é deslumbrante, talvez por remeter a outro capítulo da história ou pela estrutura que não é nada simples. Em 1945, a residência, assim como a rua pertenciam aos Thomés. Ao entrar no lugar, Miska fornece as primeiras informações sobre a família. “Toda essa área, do colégio Dom Bosco para cá, era dos Thomés. Eles tinham um parque industrial com serralheria, mecânica, tinha todo um aparato. Nos anos 30, eles foram um dos maiores construtores”, afirma. Como a porta principal de madeira estava trancada, o tour começou subindo as escadas laterais que fornecem visão para o pátio que funcionava como área de serviço. A artista plástica compartilha uma das primeiras memórias que tem dali. “Isso aqui lembra muito a casa do meu bisavô em Portugal. A minha memória mais antiga nessa casa é do meu avô engarrafando vinho aqui. Eles traziam os vinhos em túneis de carvalho e passavam para garrafões de cinco litros. Lembro de eu aqui neste quintal”, recorda. A escada de madeira dá acesso ao primeiro andar onde ficavam os cinco quartos ocupados pelos familiares, os tios de Miska. Apontando para a sacada, ela divide mais uma lembrança. “Essa sacada minha mãe disse que com dois anos me achou montada nela. Foi um desespero”, diz. O Casarão São Thomé é marcado pela madeira que está no chão, degraus, móveis, portas e nas grandes janelas construídas com peroba rosa. Nas últimas décadas, Miska fez diversos reparos para conservar a estrutura. Ainda no primeiro andar, ela fala sobre uma das reformas realizadas. “Esse banheiro tive que refazer. A banheira é original e eu só refiz, tirei os azulejos que eram iguais aos da banheira e coloquei esse detalhe. Aqui dei uma mexida porque precisei refazer o encanamento”, explica. Já no térreo, a artista plástica comenta outro detalhe da casa que também recebeu seus cuidados. “Isso aqui é o piso original. Eu limpei isso aqui com espátula e removedor, porque eles passavam uma cera e estava todo encerado de vermelho”, conta. O térreo é caracterizado por ambientes amplos, como as duas salas onde estão as cadeiras de madeira que são verdadeiras relíquias construídas pelo avô de Miska. Próximo à entrada principal, à esquerda, tem um cômodo que servia de quarto, mas agora tem alguns dos móveis que a artista trouxe da casa da mãe. Adiante, a partir da sala, outra entrada nos conduz ao ambiente onde a família fazia as refeições. Na cozinha, no alto da parede, tem o aquecedor usado na época. Enquanto mostrava o lugar, Miska falava que antes não existia a parede que dividia os dois espaços. Mencionar essa outra reforma levou Miska a relatar a emoção que culminou na ideia de transformar a casa em centro cultural. “A primeira vez que fiz a reforma no banheiro a hora que o cara abriu e eu vi os tijolos deu uma emoção tão grande que me deu a intuição: ‘Por quê você não faz um espaço cultural aqui?’. Meu avô tem muita história”, destaca. Essa história é contada através de recortes de jornais, fotografias e livros que ela guarda. O acervo mostra a primeira empresa de Manuel e os irmãos Joaquim e Antônio que, posteriormente, foi transformada em ‘Thomé e Filhos’. Um quadro de madeira com figuras representando instrumentos de trabalho, é uma das preciosidades que Miska encontrou e faz questão de mostrar. “É um quadro feito por eles com as ferramentas de trabalho. Aí vou colocar as fotos dos três”, conta. Através da empresa, Manuel e os irmãos fizeram grandes obras em Campo Grande e no Estado. “Meu avô construiu o Relógio da 14 de Julho, os Correios, Americano Hotel, o cinema Rialto. Ele fez a primeira ponte de concreto do Estado que fica em Coxim”, cita a artista. Além desses, a construtora da família também fez as vilas oficiais localizadas na Rua Barão do Rio Branco, o Colégio Dom Bosco e outros projetos que fazem parte da história sul-mato-grossense. Manuel também esteve envolvido na criação do Clube Estoril e Rádio Clube. Após mostrar os recortes de jornais, documentos e outros arquivos da família, Mika se dirige a outra parte. Ao lado do casarão outra parte do terreno um dia foi o pomar, mas hoje é jardim onde foram plantadas bananeiras, jabuticaba e ora-pró-nobis. No terreno ainda está o poço desativado, uma antiga bomba e os grandes tijolos usados na construção do imóvel. Aos poucos, Miska segue transformando o casarão onde também planeja ter espaço para o museu de bonecas que a mãe a tia deixaram. O tour termina com a expectativa e desejo de que num futuro não tão distante o Casarão São Thomé abra as portas para o público e revele todo seu esplendor. Acompanhe o Lado B no Instagram @ladobcgoficial, Facebook e Twitter. Tem pauta para sugerir? Mande nas redes sociais ou no Direto das Ruas através do WhatsApp (67) 99669-9563 (chame aqui).